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FERIDAS ABERTAS QUE ESPERO FECHAR

  • Foto do escritor: Pricilla Maria
    Pricilla Maria
  • 30 de jul. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 31 de jul. de 2019

Eu escrevo histórias. E através delas exorcizo sentimentos que me remoem. Acredito piamente que elas, as minhas histórias, precisam sair do meu peito pro mundo. Isso pode parecer extremamente egocêntrico, e acredito que seja. Nunca neguei. Mas tem coisa entalada aqui. Coisa que eu lembro e que me dói. Eu tento ficar bem, e no geral consigo, mas no fundo ainda tenho uma ferida aberta.

Sempre levei mais tempo que outras pessoas pra cicatrizar feridas na pele; e descobri que não só na pele. De vez em quando coço onde cicatriza e a ferida volta a abrir. E de coçar e coçar acaba ficando uma marca. E eu tenho certeza de que essa ferida vai deixar marca.

Rezo pelo dia em que ela vai sarar e ficar indolor, que a olharei com indiferença e ela apenas fará parte da história do meu corpo, de mim, sem me afetar. Mas ainda não. Dessa ferida ainda sai pus, o amor que eu tinha que agora putrefato não faz mais parte de mim e tem que sair.

Eu ainda cutuco com as unhas as memórias: aqueles bares, os sorrisos e gargalhadas, o quarto de hotel gelado, com os panos de cama brancos, que eram borrados pelos corpos negros sobre eles, os rolês nas madrugadas quentes de Belém, com o vento entrando fresco pela janela do carro. Aqueles dias vem fácil na minha cabeça, basta eu olhar pela janela do ônibus e sentir o sol me queimando a pele ou aquela música vir no meu flow do aplicativo de música: "no dia em que você foi embora eu fiquei sozinho no mundo sem ter ninguém; o último homem no dia em que o sol morreu". Ela ainda dói, estraçalha, e eu só não choro porque já não há o que chorar. Eu esvaziei as lágrimas. Estou cheia de pus, mas o choro cessou. Ainda bem.

A ferida ainda lateja, toda vez que uma foto tua surge no meu feed, ou uma curtida aparece nas minhas notificações. Fico me perguntando se elas significam alguma coisa, em vão, porque sei que elas não significam absolutamente nada. Apenas o que já disse aí em cima, eu demoro a cicatrizar. Tu não. A tua ferida secou, talvez nem haja marcas. A minha ainda gera pus.

Fico feliz com tua felicidade, mas ficar feliz tem um preço alto, mais um pedaço já cicatrizado cai, e eu tenho que limpar o pus que escorre.

Agora estou aqui, tentando seguir em frente, mas sempre olhando por cima dos ombros para trás, com a esperança burra de que tu vais aparecer e me dar as mãos de novo. Mas tuas mãos estão segurando outras mãos. As minhas estão no alto, tentando alcançar os céus. Todavia eu queria, eu juro que queria, estar de mãos dadas só uma última vez, mesmo que em despedida. Dessa vez, sabendo que é uma despedida. Foi o que faltou, como um esparadrapo - e o que tu não me deste o direito de ter. Eu só queria isso: um curativo.

Mas agora não faz mais sentido, agora vou fazer como toda ferida que já tive: esperar o Tempo deixá-la indolor e seca. E vou cuidando dela. Babá me livre de ela necrosar e eu perdê-la.

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